Episódios cá de Casa

Amor eterno

Nunca fui dessas coisas, ou melhor, nunca acreditei nessas coisas. 
Minto, acreditei sim. 

Até há bem pouco tempo, tive o prazer de conhecer e de fazer parte da família do casal mais cómico e alegre do mundo. Tenho orgulho de dizer que são os meus tios e que chegaram até aos 65 anos de casados. Um amor incondicionável que faz lembrar uma boa comédia romântica.
Casaram-se com 16 anos lá na aldeia e tiveram 8 raparigas, isto porque o meu tio queria um rapaz e porque naquele tempo não havia grandes distrações. 
Aquela família foi crescendo, hoje são mais de 20 netos e um número ainda não definido de bisnetos. A minha mãe está lá metida no meio, tudo porque os meus avós e os meus tios emigraram para a França juntos, o que tornou a família ainda maior. Algumas filhas por lá ficaram, mas eles regressaram à aldeia.
Quando chega o Verão, todos se juntam na festa da aldeia. Todos os anos, fosse Natal ou Verão, ia até à aldeia e visitava-os. A casa estava sempre cheia e cumprimentar todos era uma missão impossível. Quando nos sentávamos, o meu tio fazia o favor de nos obrigar a comer, até a mim, mesmo não tendo fome. Cortava o pão, o presunto e dava a todos, e nós bem o tínhamos que o comer.
Dei muitas gargalhadas com ele e com o meu avô, porque quando se juntavam era a paródia. Estavam sempre juntos, e juntos ficaram por várias décadas. Sim, estou a falar no passado… as memórias são mágicas, mas tudo tem um fim.
Aquela casa já não se enche de alegria, agora enche-se de memórias. Falta a voz dele, falta a presença dele, falta tudo. O Verão já não foi o mesmo, a casa apesar de estar lotada, a peça fundamental já lá não está.
Sempre foi aquele casal que admirei, sempre foi aquele o meu exemplo de amor eterno. 

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