Pedaços da Tim

Pedaços de mim #48

Sou transmontana, não tenho vergonha de o dizer. Nasci em Mirandela mas vivo em Lisboa. Parti para a capital tinha ainda meses de idade. São muitos os que pensam que sou Lisboeta e acho isso um máximo. Muitas vezes perguntam se não tenho sotaque ou se não tenho dizeres estranhos. Não tenho sotaque por muita pena minha… Mas há palavras transmontanas que digo frequentemente.
Sou mirandelense de alma e de coração. Adoro a terra quente para não falar da comida.

Sou do tempo em que a viagem durava 8 horas. Estar sentada durante este tempo todo faz doer o rabo, para não falar do aborrecimento. Sou do tempo das cassetes, era chato estar a virá-las e trocá-las para não falar dos sons estranhos que as cassetes ganhavam (se o carro tivesse um pequeno soluço, o som ficava registado). Chegávamos a parar para almoçar e as idas à casa de banho eram numerosas. Os quilómetros eram muitos, as auto-estradas não eram assim tão rápidas e as estradas nacionais eram a aula de geografia que tanto adorava.
São estas paisagens que me acalmam. São estas pequenas coisas que me alegram. A viagem é longa mas ninguém nos tira a tristeza de partir e a alegria de chegar.
Quando o verão chega o meu pensamento imediato é – O último fim de semana de Agosto – Marco logo na agenda e já está. A festa da aldeia do meu pai é a festa da minha infância e é a minha festa de verão. Não quero saber de Seven’s, nem de Urban’s, mas não me importo dos arraiais de Sto António.
Quem me tira esta festa tira-me tudo. O ano passado não fui… Estava a trabalhar…

A festa começa à Sexta, mas é ao Sábado que tudo acontece. A procissão começa com o lançamento de um foguete e depois é esperar que ela chegue à barragem e respirar bem fundo, pois o pior é subir o monte. (nós esperamos pela procissão na barragem, mas ela começa na aldeia)
Ouve-se o sermão e dá-se a esmola. Antes até se parava a procissão e as pessoas metiam a nota com um alfinete, para todo o povo ver. Felizmente esse hábito acabou, pois os padres dizem sempre que não é obrigatório dar e que se deve dar de boa vontade e nunca para se mostrar o quanto se têm.

Depois da procissão há o conhecido frango. Tão mas tão bom que a minha prima está de parabéns pelo molho. Também há o hábito das grandes famílias se reunirem à volta do santuário com as suas merendas e por lá ficam até de madrugada. Ainda me lembro de lá comer pastéis de bacalhau.
Depois de jantar em casa, o pessoal dá uns passos de dança e espera ansiosamente pelo fogo de artifício que antes era à meia-noite mas que agora é a 01h30. Mas vale sempre a pena esperar pois o fogo é de 30 minutos… E ainda se ouvem frases do tipo – A santa não come nem bebe, gasta-se o dinheiro em fogo. Olha o nosso dinheiro a arder… Entre outras.

Bónus – Há coisas que nunca acabam, frases engraçadas, desenhos quase artísticos e depois há aquelas pessoas que colocam os seus números de telemóvel na esperança de encontrarem o seu grande e verdadeiro amor.

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